Já ouviu falar em literacia digital? Saiba como trabalhá-la!
A aliança entre tecnologia e processo educativo é um tema de debate entre pedagogos, licenciados e outros profissionais da Educação preocupados em acompanhar a evolução da sociedade.
A exemplo do que acontece com a indústria e a saúde, os efeitos da quarta revolução industrial no ensino deram origem ao que chamamos Educação 4.0, ou seja, uma junção dos avanços tecnológicos com as tradicionais metodologias educacionais.
Afinal, a geração atual de estudantes não conhece o mundo sem tecnologia ou Internet, e cada vez mais as suas experiências pessoais — e profissionais — dependem de uma literacia digital.
Este conceito é-lhe familiar? Caso já o conheça, sabe aplicá-lo nas suas estratégias educativas? Fique a conhecer mais sobre o assunto e boa leitura!
O que é a literacia digital?
Para se perceber a importância deste conceito no âmbito escolar, é necessário, em primeiro lugar, compreendê-lo. Essencialmente, o conceito deriva da noção de literacia já presente na educação há muitos anos, mas que precisou de ser aplicada ao mundo digital após o boom tecnológico vivido pela sociedade.
A palavra “literacia” remete-nos para letras e para o processo de alfabetização (que tem o objetivo de descodificar o código linguístico, ou seja, à compreensão de palavras e textos). Mas, para além de descodificar, as pessoas “letradas” compreendem o contexto das produções textuais. Sabem quando se utiliza cada género, de que forma se cria e interpreta discursos e quais são as suas intenções comunicativas.
Por isso, a literacia é uma “leitura do mundo”, porque é o que permite compreender as diversas situações comunicativas que nos rodeiam.
Este conceito quando acompanhado do adjetivo “digital”, refere-se à capacidade de compreender as situações de leitura e escrita que acontecem no contexto tecnológico.
Se podemos definir literacia como um conjunto de competências que permite que uma pessoa compreenda o que lê, não é difícil perceber que as competências requeridas para a leitura em papel e no meio digital podem ser um pouco diferentes.
Assim, a literacia digital envolve não só a capacidade de leitura e escrita em ecrãs de telemóveis e computadores, como a utilização dos recursos tecnológicos ― localização, filtros, análises, etc.
O letrado digital precisa quase de aprender um novo idioma, uma vez que a forma como as informações são dispostas na Internet é bastante diferente dos meios tradicionais de comunicação. Trata-se de uma linguagem que abrange mais do que palavras, envolvendo códigos verbais e não verbais, como símbolos, imagens e desenhos.
Qual é a importância deste processo?
Se um dos objetivos da escola é educar as pessoas para que se saibam comportar no mundo, é indispensável que os alunos adquiram a capacidade de usar e interpretar, apropriadamente, os recursos digitais.
A era tecnológica já está mais do que consolidada, levando-nos a depender desses recursos para diversas atividades quotidianas — com destaque para o mercado de trabalho, uma vez que as competências digitais são um requisito fundamental para se conseguir um emprego.
Esta dependência da tecnologia é ainda mais forte se pensarmos nas gerações que já nasceram nesta era, que não conhecem outra forma de viver determinadas situações a não ser com a mediação de aparelhos digitais. Portanto, as crianças e
os adolescentes atuais têm de aprender a utilizar estas ferramentas e absorver todo o conteúdo ao qual estão expostas no mundo digital.
E esse conteúdo vai além do código estático escrito: conta também com diversos códigos gráficos e dinâmicos. Assim sendo, se não se souberem orientar neste mundo infinito de informação, eles não conseguirão utilizar todo o potencial comunicativo da tecnologia de forma efetiva.
Desenvolvimento do pensamento crítico É importante aprender a utilizar o que a tecnologia tem para oferecer e para criar um sentido crítico nos estudantes — o que é compatível com a missão da escola de formar cidadãos conscientes.
De facto, é cada vez mais fácil ter acesso a informações e solucionar dúvidas com uma simples consulta à Internet. Mas, para isso, é imprescindível saber distinguir entre conteúdos que têm base e confiabilidade de conteúdos sem fundamento ou que tenham intenções de manipular as pessoas.
Na Internet encontra-se todo tipo de informações, verdadeiras e corretas, ou não. Opiniões partilhadas, dicas de influenciadores, conteúdo criado por qualquer pessoa e proveniente de diversas fontes, o exercício constante de filtrar esse volume de informações favorece a construção do pensamento crítico do aluno.
Neste sentido, é fundamental que o professor atue como um orientador, incentivando os estudantes a analisar dados e informações e refletir sobre os conteúdos que consomem no meio digital.
Maior envolvimento com a escola
A tecnologia promove a interação, o que naturalmente favorece a participação dos alunos nas atividades, até mesmo para os mais tímidos. Além disso, os recursos tecnológicos são extremamente eficientes em manter as pessoas focadas. As
ferramentas, aplicações, jogos, quebra-cabeças, entre outros são muito bons para captar o interesse dos alunos.
Desta forma, com alunos mais envolvidos com a escola, a aquisição do conhecimento deixa de ser um fardo para se tornar num prazer, acontecendo modo natural.
Promoção da autonomia do aluno
Como referimos, a utilização da tecnologia na educação favorece a interação e transforma o processo de ensino/aprendizagem, conferindo protagonismo ao aluno. Ele passa a ter um papel ativo em vez de receber apenas passivamente a informação. Neste novo contexto, cabe ao aluno utilizar os recursos e as ferramentas disponíveis na procura pelo conhecimento, desenvolvendo a sua autonomia. Assim, a criança tem nas mãos o poder de descobrir os melhores caminhos para a construção do próprio raciocínio.
O meio digital favorece isto, o aluno não fica limitado ao conteúdo que recebe em casa e pode, sozinho, aprofundar o assunto ou procurar temas relacionados com o tópico estudado, utilizando os formatos que mais o agradam para aprender.
Estímulo à criatividade
Outro ponto importante da literacia digital é o estímulo à criatividade. O ambiente virtual é bastante colaborativo, propiciando a participação de todos. Ao participar em jogos digitais, por exemplo, os alunos são desafiados a utilizar a imaginação para solucionar problemas lógicos.
Além disso, o uso da tecnologia permite que os próprios alunos se tornem criadores de conteúdo, geradores de informação, atividades que por si só exercitam a criatividade. Graças aos recursos de multimédia, um professor pode, por exemplo, propor atividades práticas como a elaboração de uma paródia sobre determinado
conteúdo didático, ou mesmo a criação de um guião para uma peça ou um vídeo comercial.
Como trabalhar a literacia digital com os seus alunos?
Mesmo sabendo, com clareza, o significado de literacia digital, muitos profissionais encontram dificuldades em efetivar as práticas educativas que englobem esse conceito. Pensando nisso, veremos a seguir algumas formas de viabilizar o uso de recursos digitais na escola.
Aprender sobre as tecnologias de informação e comunicação (TIC)
Dado que o desenvolvimento de tecnologias como computadores, Internet e smartphones eclodiu a partir dos anos 1990, vivemos um contexto em que os nascidos antes desse período ainda enfrentam dificuldade em assimilar e utilizar esses recursos.
O problema é que muitas pessoas dessas gerações — que hoje têm 40 anos ou mais — trabalham com educação e precisam, hoje, de ensinar os seus estudantes a utilizar as TIC. Assim, o primeiro passo para conseguir trabalhar a literacia digital na escola é formar os professores e funcionários em relação ao uso dessas ferramentas.
Por outras palavras, é preciso formar digitalmente os próprios profissionais de educação. Para isso, é fundamental procurar cursos sobre o tema. Fazer aulas online é ainda melhor, porque coloca em prática as suas competências digitais e familiariza-se com os recursos tecnológicos que usará depois com os alunos.
Além disso, é importante referir que o estudo e o contacto com as TIC deve ser constante. A tecnologia tem um caráter altamente dinâmico, o que faz com que as
suas ferramentas evoluam e se renovem frequentemente, exigindo sempre novas aprendizagens.
Disponibilizar o equipamento necessário
Já foi o tempo em que literacia digital na escola era cumprida com simples aulas de informática. Hoje, as crianças e os adolescentes têm um contacto contínuo com computadores e Internet fora do âmbito educacional. Muitas até aprendem a utilizar esses aparelhos antes mesmo de terem idade suficiente para frequentar a escola.
Assim, quando se pensa em literacia digital efetiva, é preciso que os centros educativos ofereçam a infraestrutura e os equipamentos que acompanhem a evolução tecnológica.
Além de uma sala de informática, o ideal é contar também com laboratórios de robótica e salas multimédia, por exemplo, nas quais os professores possam aceder a vídeos, à Internet e a outros conteúdos interativos no momento das aulas.
O uso de tablet ou computadores portáteis — por serem ferramentas mais compactas — também dão mais dinâmica à aprendizagem, permitindo o manuseio e a compreensão de diversas aplicações que favorecem o processo cognitivo (sempre com a mediação dos professores).
Criar narrativas digitais como solução educativa
Contar histórias sempre foi um recurso de aprendizagem e entretenimento para a humanidade, desde as narrativas orais (antes do desenvolvimento da escrita) até à invenção dos livros, material-chave para a literacia tradicional. Agora, na era tecnológica, é a altura das narrativas digitais ganharem terreno nas escolas.
Trata-se de histórias publicadas na Internet — por isso, podem ser aumentadas com recursos a áudio, vídeo, fotografia, infográficos, etc. — que enriquecem a experiência e chamam a atenção dos interlocutores.
Aliás, por falar em atenção, vale a pena lembrar que cada vez mais o ser humano diminui o seu “ciclo de atenção” (tempo em que consegue manter-se focado em alguma coisa). Por isso, a narrativa digital também é uma solução eficiente na altura de transmitir conteúdos, porque consegue mostrar, em 5 ou 10 minutos, aquilo que o professor levaria 50 minutos ou 1 hora a explicar.
Incentivar a produção coletiva utilizando ferramentas tecnológicas
Uma das maiores contribuições da tecnologia é a capacidade de interação, instantânea ou não. E esta caraterística pode ser aproveitada em contextos de aprendizagem coletiva, como trabalhos em grupos e seminários.
Nem sempre os estudantes conseguem encontrar-se pessoalmente para realizar as suas atividades. Mesmo quando se reúnem ou quando as atividades começam a ser feitas na sala de aula, é raro haver tempo suficiente para finalizá-las. Assim, uma boa solução é incentivá-los a utilizar ferramentas colaborativas para estruturar as suas produções.
O Google Drive, por exemplo, permite a criação de textos, folhas de cálculo e apresentações por diversos utilizadores em simultâneo — e de forma gratuita. O conteúdo fica guardado online e pode ser editado a qualquer momento, por qualquer pessoa que receba o acesso.
Outro projeto coletivo possível com o uso da tecnologia é a criação de sites ou blogs, geridos por alunos e/ou professores, nos quais podem ser partilhados conteúdos pertinentes à comunidade escolar, como textos, vídeos, notícias e atividades didáticas.
Enfim, como compreendeu, a literacia digital é uma estratégia educativa indispensável para garantir aos seus alunos uma formação alinhada com as práticas sociais contemporâneas. As oportunidades são tão numerosas quanto as ferramentas disponíveis!